Prometeu e Pandora

12/01/2006

Electra, de Bergman

Gritos e sussurros e Persona


Tem coisas que a gente não sabe por que faz. Assistir a um filme de Bergman quando se está mal, por exemplo.
Comparar Gritos e sussurros com Persona não constitui uma aproximação sequer original. O simples fato de, nos dois filmes, mulheres estarem ilhadas em uma casa, somada à emergência de conflitos escondidos por longo tempo, têm sido o norte bergmaniano.
O encontro das três irmãs – e das duas mulheres – corresponde, ao que parece, à descida aos infernos. Isso não ocorre só porque a irmã está à beira da morte, ou porque uma das personagens está momentaneamente muda, mas em função da clausura que se instaura ou que é buscada por elas. Gritos e sussurros, repleto de imagens em vermelho, branco e preto, não reflete vida, só violência e paixão reprimida. A fotografia de Sven Nykvist, perfeita, flagra rostos inesquecíveis de amor, ódio e ternura. E faz cessar a dor, no final do filme, quando as irmãs, seguidas pela criada, passeiam pela grama.
Persona, se me permite a ignorância sobre técnica cinematográfica, é de um experimentalismo que faz hesitar em falar sobre, pois talvez seja só isso, um brinquedo de arte. Mas ser leigo é deleite de espectador que pode olhar só o que vê. Liv Ulmann não diz uma palavra e Bibi Andersson fala o tempo todo. E não dá pra tirar os olhos delas. Closes precisos, expressão, dor de novo. Uma atriz que se cala quando interpreta Electra.
Poucas coisas poderiam ser mais coerentes: Electra falou demais e silenciou demais. A mim parece que Bergman encontra Electra com freqüência: toda a vez que isola uma mulher num castelo confortável onde a família só entra para tornar a vida pior.


 
Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com